Cidadania e Condomínio, um “X” de muitas questões

A ideia de que condomínio seja, em realidade, uma cidade dentro de outra que, por sua vez, está dentro de um município já é batida. Em qualquer texto sobre condomínios, ela está embutida e mencionada.

Está batida, mas não discutida ao nível que merece. Em verdade, um condomínio é um universo inteiro dentro de um bairro. Neste caso, cidadania é essencial no dia a dia do condomínio

(Apoio base de pesquisas: Curso de Formação de Agentes de Reflorestamento da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro; sindiconet.com)

Cidadania - Imagem - Gazeta do Povo

Todo ser humano componente de uma sociedade que para com ela tenha deveres e dela goze de direitos é chamado cidadão.

Estendendo um pouco mais o significado: a etimologia mostra que a palavra nasceu do latim civita (cidade) e verdadeira coincidência de situações ao longo dos séculos fez nascer palavra correlacionada no grego, politikos, que significa homem que habita na cidade.

E se pretendermos associar todos esses conceitos, chegaremos à ideia do ateniense antigo, que entendia cidadania como direito de participar de tomada de decisões.

Certamente tudo isso junto lembra condomínio: local que é uma cidade na qual vivem políticos com direito auxiliar em decisões importantes. Político é todo elemento social que analise situações antes de tomar atitudes. Nada mais conveniente dentro de um condomínio.

É possível conviver em um conjunto de casas ou apartamentos sem o sentido de cidadania, mas com toda certeza o espaço poderá ser chamado de inferno.

Condôminos têm direitos adquiridos e direitos de fato; não podem ser impedidos de qualquer ação dentro dos limites de sua propriedade. Mas alguns direitos produzem efeitos negativos que ultrapassam esses limites sem que a ideia de convivência do agente causador seja arranhada.

Regras Básicas do Condomínio

O mundo seria fantástico se todos fôssemos como nossas mães acham que somos ou se fôssemos como mostramos ser no facebook. Para elas e na rede social, todos se indignam com imperfeição alheia, com desrespeito às regras de trânsito e da boa vizinhança, com atos não cidadãos.

Cidadania 1
Cidadania e colaboracionismo

Acontece que comportamento não cidadão é comum ao ser humano. Não apenas aos brasileiros, como pensariam os chamados “portadores da síndrome do cachorro vira-latas” identificados por Nelson Rodrigues. Há pessoas mal educadas na Dinamarca, na Suécia, em Uganda. E no Brasil. Há locais que têm mais, outros menos. Mas todos têm.

Tais pessoas imaginam que o play ground do condomínio seja sua sala de estar e sentam-se no banco para coçar o dedão do pé e enfiar o dedo no nariz; que o jardim coletivo seja seu jardim de inverno e retiram mudas para presentear visitas; que a piscina seja seu aquário, onde inclui qualquer tipo de peixe (parentes) sem prévia verificação de condição física.

Regras são impostas pelo regimento interno de todo condomínio, aprovadas em reuniões diversas. Ocorre que as básicas, aquelas que realmente conduzem o bom conviver, não são discriminadas em documentos; são construídas antes mesmo do nascimento do condômino, na família.

  • Um lar pode e deve ser alegre, cheio de humor. Mas essa alegria não pode produzir barulho tal que incomode vizinhos
  • Um casal pode expressar carinho em seus momentos íntimos, mas não pode fazê-lo fora de seus limites, de forma que interfira no conceito de moral e bons costumes que os vizinhos mantêm
  • Adolescentes vivem o próprio mundo como único, mas vizinhos idosos merecem respeito e preferência em situações diversas – elevadores, bancos no jardim, acesso à portaria etc.
  • Sacadas fazem parte da propriedade do condômino, mas estão à vista deCidadania - eticacarater-e-moral todos. Todo cuidado é pouco ao enfeitá-las e ocupá-las. Isso pode destoar do visual geral do prédio. Para você, isso seria irrelevante; mas para o vizinho arquiteto ou artista ou simplesmente apreciador de harmonia, isso pode ser gritante. E ele paga pelo espaço tanto quanto você
  • Os funcionários do condomínio são exatamente isso: funcionários do condomínio (leia também o texto A diferença que faz ter um porteiro no condomínio)
  • É anticidadania forçá-los a serviços particulares, ainda que sejam pagos para isso – como lavar seu carro, ir ao supermercado, trocar a lâmpada do banheiro
  • Há campainhas cujo som acorda o andar inteiro ou cujo visual agride conceitos estéticos e/ou morais. É necessário bom senso
  • Assembleias foram criadas para instigar o sentido de democracia. Não critique uma regra decidida pela maioria se você não pôde participar do momento da decisão
  • Se participou de assembleia e esta decidiu por voto contrário ao seu, gritar e esbravejar é a pior das atitudes. Aceite. Caso, no seu entendimento, a regra seja completamente absurda (veja algumas delas abaixo), procure autoridades extra-condomínio
  • Sua vaga na garagem serve para seu carro. Usá-la como extensão de seu lar é atitude anormal, especialmente se deixar ali objetos que possam causar danos e representar perigos, como máquinas, móveis etc.
  • Seu condomínio tem lugar específico comum a todos para resíduos sólidos
  • Em tempos de apoio social, participe de campanhas internas: controle de epidemias, de consumo de água, contra violência infantil e contra mulher etc.

Condômino é o mesmo que comproprietário; co-participante na aquisição de um imóvel; sua liberdade se limita ao espaço de sua responsabilidade.

Certamente há outras tantas posturas que criam clima ruim entre moradores de um condomínio, mas conscientização deve começar em algum ponto, de alguma maneira. E postura cidadã é condicionada pelo ambiente em que se vive: quanto mais se pratica, mais ela se alastra.

Então, ao seguir as regras acima, certamente será possível perceber outras que podem ser incluídas. Aliás, seria interessante se você deixasse nos comentários abaixo sua ideia de cidadania dentro dos limites do condomínio. Faça isso.

Regras anticidadania para convivência

Todo condomínio tem regras. Boa parte delas são comuns a muitos, mas alguns têm regras próprias que a maioria dos síndicos teria vergonha de adotar. Há notícias de condomínios com regras absurdas registradas em regimento interno e aprovado em assembleia.

  • Na zona oeste de S. Paulo, um condomínio proíbe caminhadas usando robe de chambre. Apenas de chambre
  • No mesmo local, é proibido portar bebida de qualquer tipo. Inclusive refrigerantes porque o portador pode ter trocado apenas o recipiente
  • No edifício Louvre, também em S. Paulo, ninguém pode usar a piscina à noite. A área é trancada às seis da tarde, evitando o belo vislumbre do pôr do sol pela manhã
  • Em Salvador, uma síndica baixou norma proibindo gemidos nos interiores dos apartamentos
  • Em um condomínio de Goiânia, é proibido cruzar a portaria em camiseta regata. Nem homens

Viver não é fácil; conviver, menos ainda. É possível que, um dia num futuro muito distante, tenhamos comportamento pelo qual não nasça qualquer situação vexatória ou contraditória em relação à cidadania. Para isso, é necessário começar em algum momento, em algum lugar, em alguma sociedade. Por que não na nossa?

Não se esqueça de deixar nos comentários sua sugestão de postura cidadã dentro de um condomínio.

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